Coisa de Fã II (Backstreet Boys)

Em 1998 o programa Sabadão Sertanejo, comandado pelo apresentador Gugu Liberato, vivia seu auge no SBT.  No palco já não se apresentavam somente duplas sertanejas, como nos primeiros anos da atração, mas também nomes populares da música nacional e internacional. O clima festivo era promovido por uma platéia feminina quase sempre os gritos, orquestrado por Liminha, o animador que ficava no meio do auditório caracterizado com a insubstituível combinação: boné, bermuda e óculos escuros. Os canhões de luzes multicoloridas e a fumaça de palco, escondiam e destacavam a presença das dançarinas que, com vestidos brancos, imitando o de Marilyn Monroe, dançavam cercadas por bambolês eletrônicos. Mas as noites de sábado do canal de Silvio Santos não eram somente histeria musical, pois a cada transição de bloco, o programa era pontuado por momentos de reflexão espiritual, com citações do médium Chico Xavier.

No mesmo ano, neste cenário inusitado, os Backstreet Boys, hoje presentes no Guinness Book, como a mais bem sucedida boyband ainda em atividade, com cerca de 180 milhões de discos vendidos em todo o mundo, receberam uma edição exclusiva do programa. Criado em 1993, com inspiração em outro fenômeno vocal masculino, o New Kids on the Block, o grupo Backstreet Boys já contava com uma porção de hits dance/pop nas paradas e assim como o Sabadão, estava no topo.

Em São Bernardo do Campo, a prima de Elton Queiroz, um adolescente de 17 anos na época, gravou o programa em uma fita VHS. Dias depois assistiram juntos e se empolgaram com a edição especial do programa. E o que poderia ter sido apenas um par de horas de entretenimento, agradou Elton de forma especial, que passou a acompanhar assiduamente a carreira dos rapazes da Flórida. Pode-se tentar resumir esses doze anos de admiração em uma coleção com o total de 110 itens (CDs, CD-singles, Shape-CDs, EP’s e DVDs.) Porém esse número, restrito apenas a áudios e vídeos sobre o grupo, pode ficar bem maior se forem contabilizados outros itens que tem guardado. Ele não sabe os números exatamente, mas “não seria exagero chutar” que sua coleção contenha aproximadamente mais 400 pôsteres, 200 revistas exclusivas, 2 fichários lotados de pôsteres avulsos, 5 livros, 3 pastas de recortes e 40 mini-revistas adquiridos ou juntados nos primeiros anos após conferir aquela edição especial do Sabadão Sertanejo.

Engana-se quem pensa que sua coleção fica parada em prateleiras ou estantes. Elton gosta do contato frequente com o formato CD: “sou ouvinte de discos completos e daqueles que ainda levam seu bom e velho discman na bolsa. Faço sempre uma seleção de álbuns da semana. Há sempre um disco dos Backstreet Boys”.

A preferência pela mídia física não quer dizer que ele não esteja  também atento ao formato digital e a possibilidade de fazer downloads, conferir áudios vazados antes de lançamentos ou mesmo comprar versões não-oficiais dos álbuns. Na era digital, Elton justifica sua escolha pelo formato CD de uma maneira que lembra o discurso dos amantes do vinil. Para ele “o ritual da aquisição, o prazer da conquista, o cheiro de encarte novo, as fotos, letras e arte de um disco, além da leveza na consciência e respeito à arte (já tentou compôr uma música e escrever uma letra? ‘That ain’t easy’), sobrepõem-se à economia de dinheiro com uma mídia instável e desrespeitosa.”

Ele pode gabar-se do “prazer da conquista” quando fala do item mais caro da sua coleção, ou que pelo menos aquele deveria ter sido. Como frequentador de lojas de Cds do centro de São Paulo, estava de olho em uma coleção importada a venda em uma importadora no centro do bairro da Mooca, composta de 11 singles, com camiseta e certificado original da Alemanha. Numa visita a procura de novidades ficou sabendo que a loja estava encerrando suas operações e desfazendo-se do seu estoque por preços bem acessíveis. Elton não pensou duas vezes para arrematar a coleção, “me custou R$110,00, proporcionalmente um dos mais baratos que já comprei.”

As novas aquisições de Elton, o DVD Chapter One de 2001, o CD solo de A.J. McLean: Have It All, o CD Unbreakable Deluxe Edition de 2007, importados da Alemanha, Malásia e Japão respectivamente, chegam em um mês. Como um consumidor assíduo de CDs e DVDs, a sua maior dificuldade está relacionada a indisponibilidade de títulos no mercado nacional. “Você como fã tem de recorrer a sites gringos ou contatos com pessoas de boa vontade para o ajudar a conseguir  determinadas raridades. Sem contar a necessidade de um cartão de crédito internacional para as transações e de vez em quando comprar às escuras, em lojas virtuais que dão poucas informações sobre o produto, em que você corre o risco de receber, meses depois, algo que já tem ou que não era exatamente o que você procurava.” Elton nunca sofreu com surpresas desagradáveis em suas compras, mas acredita que elas  desestimulam fãs a aumentarem, ou mesmo iniciarem coleções.

Questionado sobre o custo para manter essa sua admiração pelo trabalho do grupo, ele explica que não sai comprando por aí, sem critério. Suas compras envolvem sempre pesquisa, procura insistente, comparações e garimpagem para obtenção de produtos interessantes com bom custo-benefício. Além dessa consciência na hora de aumentar sua coleção, Elton diz que deve ficar claro que não se pode querer ter de imediato tudo o que é lançado, senão “você fica na neura e continuará sem atingir esse objetivo”. Ele já planeja adquirir nas próximas semanas o DVD da This Is Us Tour, lançado exclusivamente no Japão em 2 versões: DVD duplo e DVD triplo, adivinha por quanto? “R$300,00. É, eu sofro!”

Falar  de predileções com Elton é um pouco difícil, mas percebe-se aí o seu conhecimento milimétrico sobre as músicas, versões e o trabalho dos Backstreet Boys. As inúmeras aquisições variam de posição na sua lista de preferidos. Atualmente o álbum que mais gosta, por exemplo, já foi um dos que mais detestou. “Desde 2007 gamei em quase tudo do disco Never Gone de 2005, o último com a participação do Kevin que deixou o grupo um ano depois. Deste disco só não gosto mesmo, mas também ouço porque sou ouvinte de discos completos, da música Siberia.” Quando questionado sobre apenas uma música preferida, com dificuldade opta pela faixa Trouble Is, “uma música do disco Unbreakable, primeiro álbum já com a formação atual (sem o Kevin), lançado em novembro de 2007”, uma regravação com sucesso menos estrondoso, originalmente interpretada pelo cantor americano Don Mescall. Elton porém deixa claro que sua escolha não busca “fugir dos clichês I Want It That Way, All I Have To Give, Show Me The Meaning Of Being Lonely” música bem conhecidas, das quais também gosta imensamente, a questão é que retornou “ao lance de sentir a música” e acredita que o “que há de melhor nos álbuns da maioria dos artistas, quase nunca é lançado como música de trabalho.”

E se você leu até aqui e pensou que Elton ouve apenas Backstreet Boys diariamente, está enganado. Ele ouve muitos outros cantores e bandas, como ele mesmo diz, do “melhor estilo POP Elton de ser e ouvir”. Tem fixo para si um TOP 9, composto pelos “Backstreet Boys, Sugababes, Hanson, Madonna, Darren Hayes, Shayne Ward, Westlife, The Saturdays e Blue”, dos quais também coleciona CDs e DVDs, mas aí já é outra história, para outro post da seção Coisa de Fã.